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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Análise do Bellator 39 Alvarez vs Curran

Em uma Mohegan Sun Arena lotada em Connecticut, o Bellator 39 rendeu mais uma grande noite de lutas para os fãs de MMA. Eddie Alvarez defendeu pela primeira vez o cinturão dos leves e dominou amplamente o desafiante Pat Curran. Rick Hawn segue invicto depois de vencer Lyman Good numa apertada e controversa decisão, classificando-se para a final do torneio dos meio-médios. Pela primeira semifinal do torneio dos leves Patricky Pitbull marcou seu nome na fila dos melhores nocautes do ano ao destruir Toby Imada. Destruição é um termo que também se aplica ao trabalho realizado por Ben Saunders contra Matt Lee, em luta casada que abriu a transmissão

    Eddie Alvarez (EUA) venceu Pat Curran (EUA) por decisão unânime (49-46, 50-45, 50-45)

Um adversário talentoso que não tem nada a perder pode representar um risco enorme. Mas para isso ele precisa tentar. Em um combate praticamente dominado do começo ao fim pelo campeão, Pat Curran não foi sombra do atleta que ganhou o torneio da segunda temporada e não justificou a posição de desafiante do cinturão de Eddie Alvarez. Diferente do que viu o julgador Dave Tirelli, Curran não venceu nenhum round na nossa contagem.

Com uma movimentação que fazia lembrar uma mistura de Anderson Silva e Dominick Cruz, Alvarez não parava diante do oponente. Apoiado pela torcida que gritava “Eddie! Eddie!”, o campeão mostrou seu boxe de alto nível. Movendo-se lateralmente, Alvarez encaixava jabs, diretos, ganchos e cruzados. Parado no centro do cage circular (e mostrando como isso não é garantia de vantagem), Pat passivamente via o oponente agir e quando tentava responder, ou socava o ar ou não tinha contundência. Pelo menos mostrou uma defesa de queda muito eficiente. Na única vez que Eddie conseguiu uma queda no round inicial, quando varreu a perna de base após ter um single-leg defendido, rapidamente Curran se levantou.

E este foi basicamente o panorama dos primeiros quatro rounds. Alvarez parecia que dançava e tinha sucesso na trocação, mas não conseguia quedar e sustentar posição no chão e também não mostrava muita eficiência no clinch contra a grade. Abriu facilmente 40-36 na nossa contagem, variando bem entre golpes na cabeça e ataques ferozes na linha de cintura do desafiante.

No último round a movimentação frenética de Eddie continuava firme, os socos no abdômen incomodavam, conseguiu até quedar com uma baiana. Mas o ritmo foi diminuindo e o público começou a vaiar. Eddie ainda encaixou uma violenta joelhada no rosto, mas não conseguiu aplicar uma sequência. Pat então acordou. Passou a acertar alguns golpes e, quando foi quedado depois de levar uma finta, reverteu e ficou por cima faltando meio minuto. Não conseguiu nada demais, sequer vencer um round.

Esta foi apenas a terceira vitória das 22 de Eddie decidida pelos juízes. Com a vitória inconteste, campeão firma seu nome como o principal lutador do mundo peso por peso fora da Zuffa. Depois da luta, Curran cogitou baixar de categoria e lutar como peso pena no próximo torneio.

    Rick Hawn (EUA) venceu Lyman Good (EUA) por decisão dividida (29-28, 28-29, 30-27)

Esta luta foi um caso clássico de resultado distorcido por erro de análise das regras.

O primeiro round foi amarrado. Hawn aparentava tomar a inciativa, o que deixou a luta presa no clinch por muito tempo. O judoca não teve contundência alguma e foi pouco efetivo em suas tentativas de golpes. Good, que buscava retomar o cinturão perdido, se postou normalmente nos contra-ataques e teve melhor aproveitamento dos socos e chutes lançados. Não há argumentos à luz das regras que tire o 10-9 a favor do ex-campeão. Infelizmente não foi o que o juiz Bryan Minor viu.

Lyman voltou buscando mais a luta e tentou uma sequência logo no começo, mas Hawn mostrou como se porta um ex-judoca olímpico. Aplicou um harai tsurikomi ashi, a clássica varrida lateral, e caiu por cima. Tentou trabalhar por dentro da guarda de Good, variando socos na costela e na cabeça, mas o ex-campeão não dava espaço. Assim passou todo o round, vencido por Hawn também por 10-9, empatando a disputa na nossa contagem.

O último foi parecido com o primeiro. Hawn partia para cima e Good circulava buscando os contragolpes. Como lembrou o comentarista da MTV2, as Regras Unificadas de Conduta do MMA mandam beneficiar quem tem maior efetividade e contundência na trocação caso a luta transcorra por mais tempo em pé. Por esta ótica era impossível não dar a vitória no round a Good. Só que, faltando meio minuto para soar o gongo Hawn conseguiu um single-leg depois de três tentativas de quedas frustradas. Caiu por cima, tentou um ground and pound, mas o tempo acabou. Na minha opinião, mesmo com a queda final, valeram mais os 4:30 de maior efetividade em pé de Good, o que lhe daria 10-9 no round e 29-28 na luta.

Mas o que vimos na contagem oficial? O juiz Jeff Blatnick, campeão olímpico de luta greco-romana em Los Angeles-1984, viu a mesma luta que eu. Cardo Urso, que ajudou a desenvolver o programa de artes marciais dos mariners americanos, achou que pseudo-agressividade de Hawn lhe valeu a vitória por 29-28. Como este camarada deu a vitória para Leonard Garcia contra George Roop no WEC 47, a gente entende o critério, apesar de discordar. Mas o pior mesmo foi o tal do Bryan Minor, que viu vitória de Rick Hawn nos três rounds. Quer dizer…

    Patricky Freire (BRA) venceu Toby Imada (EUA) por nocaute (2:53, R1)                  

Pitbull entrou no torneio como azarão. Diante do favorito Rob McCullough na primeira rodada, um nocaute espetacular. Provando que estava no nível dos demais, ele foi além hoje.

Logo no começo Patricky resolveu maltratar as pernas de Toby. Chutes nas partes interna e externa das pernas do oponente eram misturadas com combinações rápidas de jab-direto em cima e boas esquivas. A luta parecia morna, com o brasileiro entrando, deixando um chute ou soco e saindo. Até que… Sabe quando você está jogando Mortal Kombat, prestes a nocautear o adversário e uma voz ordena: “Finish him!”. Pois é. Na marca de 2:45min o brasileiro tirou da cartola uma joelhada voadora que entrou sem pedir licença, explodindo contra o rosto do americano. Automaticamente parecia que Imada havia se desligado do mundo. Nocauteado em pé como no videogame, ainda sofreu o fatality, um gancho de esquerda que o mandou duro ao chão, desacordado. Michael Chandler e Lloyd Woodard, que farão a outra semifinal do torneio, devem ter ficado assombrados.

Com lágrimas nos olhos o brasileiro declarou após a luta:
    “Um ano atrás eu estava vindo de uma contusão e pensando em desistir, agora estou aqui. Não consigo colocar isso em palavras.”

Vídeo: canal oficial do Bellator no Youtube.

    Ben Saunders (EUA) venceu Matt Lee (EUA) por nocaute técnico (1:24, R3)              

“Killa B” justificou seu apelido. Afinal a diferença de qualidade era enorme. Lee é corajoso, aguenta pancada, anda pra frente, mas não tem técnica suficiente para responder às trocas de base e combinações do discípulo do Jeet Kune Do de Bruce Lee. Saunders pressionava ora com chutes baixos e diretos, ora com combinações movendo-se para frente, ora no thai clinch recheado de joelhadas e cotoveladas. Matt apanhou igual mala velha, chegou a dobrar os joelhos, teve os dois olhos prejudicados com cortes enormes, mas não desistiu. Só não foi 10-8 porque Ben não conseguiu nenhum knockdown.

Deu pena do oriental de cabelo descolorido. Seus olhos que já são apertados, ficaram ainda menores já no primeiro round. Muita gente teria desistido ali, mas Lee foi heroico e ainda apanhou por mais alguns minutos. O panorama do segundo foi o mesmo: chutes altos, joelhadas, cotoveladas, socos de todos os lados. Mesmo num cage sem ângulos, “Killa B” mostrou que é possível encurralar seu adversário e puni-lo. Olhos inchados, cortes nas maçãs do rosto, nariz ensanguentado. A situação de Matt era triste. Nem mesmo um golpe baixo acertado em Ben num clinch foi o suficiente para conter o ritmo. Novamente Lee foi salvo de um 10-8 por sua raça e queixo de ferro.


Incrivelmente o médico deixou Lee voltar para o último round naquelas condições deploráveis. Ben chegou a aplaudir a coragem do oponente ao voltar para o terceiro. Respirando pela boca e com o rosto deformado, Matt sofreu mais um pouco. Ben travou logo no clinch e rapidamente todo o curativo feito no olho esquerdo do oponente cedeu. O árbitro então pediu para que o médico verificasse o lutador, quando finalmente o massacre teve fim.

Esta luta vale uma reflexão: será que só pelo fato de um lutador estar de pé, trocando esgrima, justificaria a continuação de um massacre? Desde o primeiro round ficou claro como a luta transcorreria. O médico não deveria ter mandado parar antes? Vamos esperar alguma coisa mais séria acontecer? Deixo a reflexão com vocês.

 Fonte: MMA-Brasil

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